21 de novembro de 2009


"O céu me dando um abraço"



03.11.09

  • Puno, Peru. 215 km da fronteira com a Bolívia.

“... tenho a impressão de que anos se passaram desde que comecei essa aventura. Sinto que a taça está cheia e é hora de descansar a mente, absorver tudo isso que tenho vivido lentamente. Hoje sinto a ansiedade aproximando-se como há tempos atrás, quando ainda sonhava estar onde estou. Quando imaginava cada lugar como esse e quando o véu denso do desconhecimento fazia-me sentir medo de cruzar fronteiras. Quando eu podia imaginar as pessoas daqui, mas sem saber sobre seus costumes, seus cheiros, suas energias... Sem saber que imaginar o desconhecido era algo muito limitado...”

04.11.09

  • Cochabamba, Bolívia

“Recalculei tudo dezenas de vezes e não tenho alternativas para a Bolívia. O dinheiro acabou e faz alguns dias que começo a criar dívidas. Tenho que chegar ao Brasil o quanto antes e criar um plano de contingência para me capitalizar novamente...

Tenho que cruzar esse país em dois dias, do contrario terei problemas... Um trecho de 300 quilômetros que ninguém sabe informar o estado da estrada me aguarda logo depois de Santa Cruz. Existe um trem que leva ao Brasil... O Trem da Morte, conhecido assim pelos crimes cometidos nos vagões ao longo das viagens. A estrada alternativa ainda é um mistério...”

05.11.09

  • Santa Cruz, Bolívia

“Não existe um boliviano que conheça a bentida estrada que vai me levar ao Brasil. Informações mil, todas distintas! – Não existe estrada. – Tem estrada e está asfaltada. – Esse caminho é usado só por bandidos – Tem uma terrinha mas a moto passa...

Do outro lado desse mistério, o Brasil. Que saudades do português, das comidas e do povo brasileiro..."

06.11.09

  • Corumbá, Brasil

“Sem energias... Esgotado, mas incrivelmente feliz! A cerca de cem quilômetros da fronteira, descobri que nosso país tem cheiro. O cheiro do Brasil, do país Brasil entrava em meus pulmões e resgatava as lembranças de centenas de lugares. Emocionei-me. Como um país tem cheiro? Seriam as terras Bolivianas iguais as brasileiras? Mas como resgatar lembranças do mar, das montanhas de Minas Gerais, das flores das estradas paranaenses, das pedras do interior da Paraíba... Como um cheiro, um aroma conseguiu me levar às dunas do litoral norte, ao rio amazonas e até as ruas dos Bancários em João Pessoa... Não entendo. O acesso as lembranças já havia acontecido com o perfume da minha vó e dos meus pais, muitas vezes na infancia. Mas o cheiro de um país... A brisa de um país a cem quilômetros de sua fronteira... Jamais vou esquecer...

Vencido com sérias dificuldades e com ajuda de “anjos”, a misteriosa estrada de 630 quilômetros entre asfalto, muita lama, matas fechadas, areia e construções, consegui chegar ao Brasil deixando a Bolívia após apenas dois dias.

Preciso comer um pouco de feijão com farinha para recuperar as forças!”

07.11.09

  • São Gabriel do Oeste, Mato Grosso do Sul



“Almocei com meu Pai. Meu Pai!!! Que presente. Que orgulho. Meu ídolo e minha inspiração.

A moto precisa de mil reparos, o bolso precisa de dinheiro, preciso de alternativas para continuidade do projeto, preciso melhorar o que tive dificuldades, preciso escrever sobre tudo... Mas não agora. Encerro outra fase com essa chegada. Vou aproveitar minha família, deixar a mente absorver tudo que foi vivido. Descansar e saborear um pouco das coisas comuns. Saber onde vou almoçar, saber onde vou dormir, saber o lugar das coisas... Estar cercado de pessoas que me conhecem bem. Coisas simples que tive que abrir mão quando decidi viajar. Agora é o momento de ter isso novamente, ao menos até o próximo passo...”

14.11.09

  • Curitiba, Paraná

“Meus pais hoje completam 25 anos de casados. Viva as Bodas de Prata!”



“Família junta. Essa família... Como amo todos. Como me sinto bem próximo. Como é importante o apoio incondicional a todos meus sonhos”

“Aqui vou começar a me preparar para os próximos passos... Quanto tempo? Não faço idéia. Não planejei nada ainda, como sempre, vou me deixando levar pelo vento...”



Obrigado a Todos pelo apoio ao longo desses 150 dias de viagem.

Obrigado a Todos pelo apoio ao longo desses 25 mil quilômetros.

Obrigado a Todos pelo apoio ao longo desses 6 países.

Obrigado a Todos pelo apoio nos vulcões de 5800 metros.

Obrigado a Todos pelo apoio nas praias do Caribe.

Obrigado a Todos pelo apoio no frio cortante dos Andes e no calor extremo dos Desertos.

Obrigado a Todos por acreditarem nos meus sonhos.

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“Com a moto nas montanhas, quando já acostumado a olhar para baixo para admirar as nuvens eu pensava: - Talvez ainda não tenha mudado o mundo, mas estou cada vez mais me tornando parte dele. E quando estiver pronto... o farei!”


2 de outubro de 2009

"Amabilidade"



A Colômbia tem me ensinado nas últimas semanas sobre um novo modelo de relações humanas. O povo colombiano está sem dúvida ocupando o primeiro lugar na disputa por hospitalidade, por amabilidade, pela capacidade de acolher e tratar incrivelmente bem seus visitantes.

O cidadão colombiano, analisando todas as pessoas da Colômbia que conheci ao longo de mais de 60 cidades de norte a sul, é um ser sempre disposto a ajudar. Com simplicidade e muito desprendimento ele informa, acompanha, tem que certificar-se que está tudo realmente bem, que não necessita mais nada, e com um sorriso que todos os rostos carregam sempre de deseja Sorte, Boa Viagem, Bom Apetite, Bons ventos...

Mesmo conhecendo a hospitalidade dos brasileiros, sobretudo das pessoas do interior, a princípio desconfiava que houvesse algum interesse. "Um turista, vamos aproveitar" imaginava que seriam seus pensamentos. Mas rapidamente essa idéia foi desfeita. Desprendidos eles doam. Refeições, abrigo, informações e o que estiver ao alcance.

A moto sofreu sérios danos nesse ultimo trajeto da viagem. Eis que conheci mais uma alma nobre que me auxiliou com tudo, desde a procura por oficinas especializadas até ter quitado todas minhas despesas com a moto.

Um ser apaixonado por motos mas sobretudo um verdadeiro colombiano na forma de ser o mais prestativo possível.

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O Exército aqui tem um papel diferenciado. São jovens da própria cidade fardados, instruídos a proteção das pessoas e a ajudar. Muito educados e prestativos nas informações, desenham mapas, orientam, explicam. Para viajantes, os próprios colombianos recomendam, peça ajuda ao exército. Presente em todas as estradas e cidades tem uma força social grande e deixam as cidades num grande clima de tranquilidade.

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Estou me sentindo muito bem. Toda viagem solitária é passível de solidão. Mas estar só ultimamente não tem me feito sentir mal. Sinto-me sempre perto dos meus amigos, da minha família e saudade é algo que não me faz sofrer. Como se tivesse aprendido sobre estar perto e fazer-se presente mesmo estando fisicamente distante, mesmo desafiando o tempo.

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Sinto uma imensa vontade de compartilhar cada sensação dessa viagem. Visualizo as reações dos meus mais próximos à medida que as coisas vão acontecendo, em paralelo me concentro no que esse momento significa. Eu longe de todos, sem apego, sem sofrimento, podendo caminhar para onde o vento sugerir sem ter pendências com o mundo. Por momentos imagino que isso é Paz.

Leveza, admiração das incríveis paisagens desse nosso mundo, sensação de conforto mesmo em um território completamente desconhecido, segurança, auto estima... Uma fé cada vez mais intensa...

Vislumbro tudo isso como se estivesse em treinamento para os novos desafios que vêm pela frente. Como se tivesse aprendendo novas maneiras de lidar com meus próprios sentimentos e sensações e aos pouquinhos ir ganhando experiência para enfrentar novas etapas que me esperam.

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É claro que alcançar a paz nos Andes tem um nível de dificuldade bem diferente de encontrar a paz no dia a dia, na rotina.

Mas me concentro em ter consciência disso nos momentos difíceis, que também existem, e tentar vencer barreiras mentais importantes buscando a paz principalmente quando em meio ao caos.

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Estou espiritualizado com a magia dos lugares. Levo para o Equador importantes lições do território colombiano.

=)

Hoje me sinto em completa PAZ

19 de setembro de 2009

Nova consciência


São muitos os que tem seqüelas dos sangrentos conflitos que envolveram a Colômbia nos anos anteriores. Um amigo, Sebastian, 21, ex paramilitar cuja casa foi queimada e teve o pai morto à quatro anos atrás, contou-me um pouco de sua vida...

Aventureiro e muito falador, conta os profundos ensinamentos de seu pai.

Diz que quando niño seu pai o levava sempre aos campos e as plantações e dizia para ele:

- Cheire a terra meu filho e aprenda a amar esse cheiro. Semeie, cultive, trabalhe a terra e colha os frutos. Tente sempre entender esse ciclo. Não se pode colher sem semear.

Conta que uma vez haviam passado um tempo plantado várias árvores nas redondezas da sua casa. Um dia estavam caminhando e seu pai de repente parou em frente a uma arvore que havia sido plantada a cerca de 15 dias e disse:

- Filho, arranque essa árvore. Sebastian sem entender muito o que se passava foi até a árvorezinha, agarrou-a com as mãos e arrancou com todas suas raízes.

Seu pai deu um sorriso satisfeito e não disse nada. Caminharam mais um pouco e pararam em frente a outra árvore. Essa bem mais robusta, mas ainda jovem, com pouco mais de um mês. Seu tronco não era mais grosso do que as duas mãos de Sebastian.

Novamente veio a ordem:

- Filho, arranque essa árvore agora. Sebastian subestimou a árvore e foi confiante agarra-la e puxa-la. Não precisa dizer que ele mexeu para todos os lados e não conseguiu sequer ver as primeiras raízes. Arriscou pegar um machado, mas seu pai reprovou e disse que queria que ele a arrancasse com todas suas raízes.

Depois de um tempo sem sucesso Sebastian perguntou o que aquilo queria dizer.

Então ouviu uma lição, seu pai lhe explicara sobre os vícios das drogas. Que como as árvores, os vícios se enraizam de maneira tal que só temos a chance de remove-los quando ainda muito jovens. Do contrário vão se enraizar para sempre.

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Emocionado ao lembrar as lições de seu pai, camponês dos andes, Sebastian conta que isso parece algo tão obvio hoje, ter cuidado com os vícios. Mas diz que infelizmente todos seus amigos de infância hoje são viciados e estão envolvidos com o Narcotráfico e acrescenta que as lembranças de uma tarde com seu pai, das lembranças das dificuldades e das tentativas em vão de sacar a árvore da terra, o livraram de tantas oportunidades de tornar-se um viciado ou traficante.

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Sebastian ainda critica o quanto estamos envolvidos em um mundo de ilusão, desejando sempre dinheiro, mulheres e carros. Explica sobre os atalhos que o narcotráfico fornece para conquistar essas coisas e a forma como isso vai tornando os envolvidos cada vez mais sanguinários e famintos por alcançar isso.

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Treinador de cães para Departamento Anti Drogas de Medellín, conhece o sistema. Cheio de ideologia, diz que quer muito viajar pelo mundo também para descobrir outros países e outras culturas. Aprender outros idiomas e tentar fazer algo pelas pessoas.

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Hoje Sebastian estuda gastronomia, é Chef de um restaurante, funcionário do município de Medellin e treinador de cães. Além claro de ser um grande revolucionário em suas idéias.

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Eu nos caminhos das montanhas tentava lembrar onde as crianças aprendem a serem incorruptíveis. Onde os pequeninos recebem grandes lições de sabedoria, de cidadania que vão faze-los adultos conscientes sobre as enfermidades do mundo e responsáveis diretamente por muda-las.

Temos que começar a criar uma nova linha de ensino, onde se aprenda a não se corromper. Onde seja ensinado ajudar o próximo, a entender a importância do trabalho em prol da humanidade, que se ensine sobre responsabilidade social e ambiental.

Precisamos ir semeando esse novo estado de consciência...

15 de setembro de 2009

90 dias


Tres meses?
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Nao nao... Tem algo errado... Meros noventa dias...?
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Salve Einstein e a teoria da relatividade. Poderia jurar que hoje se completariam tres anos, mais talvez, desde que desprendi da minha cidade e fiz uma pausa no convivio com muitas das grandes pessoas da minha vida.
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Eu cheio de dúvidas, de anseios, sabendo tao pouco sobre o que isso representaria na minha vida. Um enorme território desconhecido a desbravar, a distância física de tantas pessoas importantes, a segurança e o carisma de Joao Pessoa que por tantos anos foi um porto seguro.
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Os medos. Nao dos bandidos, nem das estradas, nem do passo seguinte desconhecido. Os medos que sentia sobre sacrificar as boas horas de convivencia em conversas despretenciosas, engraçadas e as vezes profundas abordando a vida, os sonhos, as decisoes.
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O caminho e o bombardeio de incertezas só aumentaram a cada quilometro que foi rodado e nao me livrei das duvidas, aprendi a conviver em paz com elas.
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Duvida, insegurança, a necessidade de tomar decisoes rapidas, o cansaço, a liberdade, a incrível fé que me acompanha, a saudade bem especifica de pessoas e momentos. As incriveis paisagens e historias, o roteiro do dia seguinte, os trevos das estradas e o caminho.
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O caminho é o que há de mais maravilhoso. No físico, no mental e no espiritual. O movimento do mundo ao meu redor gera sensaçoes e sentimentos únicos, pensamentos impossíveis e me dao a impressao de voar.
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Três países. Um mundo desconheçido ainda por vir nos muitos milhares de quilometros que faltam para essa jornada.
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Desprendimento
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E como se a cada dia fosse necessário eu avaliar o segundo anterior e a decisao seguinte. E da mesma forma como se fosse necessário esquecer o segundo anterior e o seguinte e enxergar o exato em que estou.
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Um turbilhao de emoçoes que controle, amarro, desato, me tras paz e agitaçao.
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Tenho inumeras vezes a sensaçao de que a Terra nao gira mais e eu é que estou girando em círculos ao seu redor.
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Me sinto bem em viajar e viver essas maluquices!

Hoje, sensaçao de anos longe de todos. E como se num piscar de olhos pudesse estar ao lado de cada um!

Vivam os modestos 90 dias de viagem.

2 de setembro de 2009

Venezuela

Como todo resto da viagem, essa segunda fase, quando saio do Brasil, não havia sido planejada a fundo. Defini um roteiro macro e marquei as principais cidades que deveria passar. Acostumado a definir a direção somente diante dos trevos e encruzilhadas enquanto ainda no Brasil, não pensei que iria ter alguna dificuldade fora. Porem o equivoco que cometi não foi em relação a ter dificuldades em escolher a direção mas sim em deixar a “sensação de segurança” que o nosso país berço oferece para entrar em um país bem mais hostil e desconheçido do que eu imaginava.

Fui bombardeado pelos Venezuelanos que insistiam em dizer que era “Absolutamente” insano cruzar a venezuela sozinho e que era muito provavel que eu fosse assaltado em algum momento. A palavra Periculoso foi incontaveis vezes pronunciada.
Sim, depois de tantas informaçoes sobre as lendas de super bandidos e traficantes que eu enfrentaria fiquei com medo.
Parece algo muito simples essa história de ter medo, mas eu sou duro na queda e para os que me conheçem sabe que eu admitir que fiquei intimidado é por que a coisa foi séria.
Mas muito acima do medo estava a vontade incrivel de desbravar esse territorio novo e fazer essas lendas de fato ficarem na condição de lendas.
Aos poucos fui me tranquilizando e a cada nova cidade que passava, que pelas informaçoes eram praticamente sitiadas pelo perigo, fui refletindo sobre como precisamos encarar os perigos para seguir nossos objetivos e que se pararmos na primeira ameaça podemos ter sido vítimas apenas de lendas.

Agora ja estou ate furando barreiras nas estradas, subindo e descendo os Andes e se olhar feio eu ja retruco. “¿Qué Passa? ¡ Soy BRASILEIRO MERMAO!

Nesse país enfrentei os mais diversos climas. Aridez extrema e ventos super gelados dos Andes. Vi animais muito diferentes do que tem no Brasil e paisagens que lembram o Sertao Nordestino arrancando saudades imensas.
Aprendi a entender muito mais español e falar o suficiente para uma conversa despretenciosa com algum habitante com uma boa história.
Levo para Colombia uma boa bagagem de sensaçoes novas e uma enciclopédia de detalhes aprendidos nesse mês na Venezuela.

Devo ainda ficar nesse país mais 5 dias e finalmente entrar na Colombia pela regiao da La Guajira, extremo norte da América do Sul.

18 de agosto de 2009

Pedir

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Para muitas pessoas é algo natural, uma comodidade, um meio de fazer sem esforço já que outro (aquele que atendeu ao pedido) o fará.
Pedir pode ser manha. Dizia (não sei se ainda diz) minha irmã quando já deitada antes de dormir, com uma voz arrastada. “Paaaaaiiiiiiii..... trás água pra miiiim....” e meu pai as vezes já deitado também levantava as vezes rindo e levava o manhoso copo de água.
Pedir pode ser fé. As pessoas pedem a Deus por dias melhores, por saúde, amor, luz. Querem uma interferência ou ajuda e através de orações pedem ao Pai que isso aconteça, as vezes no silencio de seus lares sem que ninguém perceba e as vezes tornam público seus pedidos falando em alto falantes para que todos ouçam.
Pedir pode ser por fim Necessidade e esse é, sei que é, muito difícil, pois se não for atendido é provável que as coisas piorem ao invés de melhorar.
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Segundo o que acredito, uma das grandes chagas da humanidade é o Orgulho. Esse sentimento tão complexo e em sua maior parte daninho é mesmo difícil de lidar.
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Existe, para os orgulhosos, uma imensa dificuldade de se conseguir as coisas simplesmente “Pedindo”. Muito mais do que uma comodidade, pedir parece ser uma maneira de assumir não ser capaz. O orgulhoso nunca se deixa abater por que pensa que pode se virar sozinho em toda e qualquer situação. É claro que se for um orgulhoso competente o fará sem problemas, mas o exercício da humildade vai sempre passar distante.
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Tente agora compreender o que se torna um ser orgulhoso por achar que pode resolver sempre tudo sozinho e otimista por pensar que tudo sempre vai dar certo, mesmo fazendo tudo sozinho. E não é por falta de oferecimentos de ajuda, é simplesmente por achar que pedir pode incomodar ou que não é necessário ainda. E esse “ainda” se prolonga ate que de alguma maneira esse ser dê um jeito de resolver as coisas.

Bom, um ser desse nível precisa aprender muito sobre humildade não é?
Eu sei que sim. Tenho muito que aprender sobre isso.

Por que confessar-se um bendito ser orgulhoso a essa altura é simples, eu consegui fazer uma força extra e PEDI.

Pedi ajuda para Moto Honda da Amazônia e mesmo estando completamente “pragmático” sobre o interesse da maior montadora de motos da América Latina em meu projeto, fui surpreendido.

Muito mais do que peças e revisão eu ganhei uma verdadeira lição sobre acalmar o coração, respirar fundo e aceitar que as pessoas podem sim ajudar simplesmente pelo fato de ajudar.

Quem me dera sugerir a idéia de patrocínio para o que aconteceu. Assim eu poderia retribuir com divulgação da marca e teria que cumprir metas, talvez ter a obrigatoriedade de participar de eventos relacionados... Mas não. Simplesmente NADA me foi pedido em troca e muito me foi dado.

Tenho mesmo que agradecer pela lição de moral que tomei.
Alias, tenho que agradecer muita coisa.
Pela forma como meu pai me ajuda a ser perseverante e tomar as decisões certas.
Pelas pessoas que conheci nesse caminho e que já estavam comigo muito antes dessa viagem acontecer, sempre oferecendo ajuda em tudo.
A todas que eu disse não ou pareci constrangido, sem mostrar interesse na idéia de ser ajudado, me perdoem.
Posso dizer hoje que aprendi sobre simplesmente aceitar uma mão estendida ao invés de tentar e fazer força ate conseguir levantar sozinho.

Deixo Manaus depois de um longo período de reflexões, de adaptação, de experiências difíceis, mas de grande aprendizado.


Sigo amanhã novamente rumo ao Mundo Novo que me propus a descobrir.

Com mais fé, com mais amigos, com mais força e agora também com um pouco mais de desprendimento da chaga do Orgulho.

Acompanhem-me amigos. Estão comigo, eu sinto. E estou também com todos!


Ajuda da Moto Honda da Amazônia:
Pneus e rodas dianteiro e traseiro novas.
Paralama novo.
Telescópio novo.
Rolamentos da direção novos.
Embreagem nova.
Carburador novo.
Tanque de combustível novo.
Banco novo.
Retentores, óleo e filtro novos.
Maneta de freio nova.
Revisão incluindo testes em pista de prova.
Indicação das fábricas do Peru e Argentina para nova ajuda.

31 de julho de 2009

Preparando a segunda etapa


Estou aguardando um navio.
Hoje é domingo, embarco na terça-feira e saio na quarta. Aguardar é mesmo algo difícil para quem vem de intensos trinta dias de movimento.
Hospedado na casa de um grande amigo que mergulhou nos meus ideais, espero as horas passarem, as vezes frente ao computador e as vezes sentado na cama olhando o teto.
Poderia me ocupar facilmente, mas o silêncio a essa altura é necessário. Revela todos os medos escondidos ou disfarçados no movimento.
Sim, as poucas pessoas que me conhecem facilmente identificam a forma como procuro atropelar algumas idéias com a velocidade das mudanças e procurar esquecê-las em vez de encará-las.
O silêncio e a solidão neste caso me desarmam e me deixam sem alternativas a não ser pensar sobre tudo e tentar entender e colocar cada pensamento em seu devido lugar.
Nem sempre achando soluções, nem sempre resolvendo, mas colocando-me ciente de cada coisa que vivo, que imagino, que almejo, sem deixar que desejos ou medos escondam-se, impedido refletir a respeito.
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São nesses momentos de silêncio em que consigo ver e ouvir o que está se passando em meu coração. Escutar os próprios pensamentos e até opinar sobre a própria intuição.
Em meio a isso tudo o tédio. Como se a terra parasse de girar e a velocidade com que as coisas mudam simplesmente congelasse.
Quando perde a importância levantar, se mexer, comer ou dormir sobra uma única alternativa: Pensar.
A direção dos pensamentos pode ser livre no começo, mas devagar as perguntas se aproximam e o querer entender o porquê das coisas passa a ser mais uma busca.
Cito outro filósofo, “conhece a ti mesmo”.
É claro que não é necessário cair no mundo para olhar para si e lapidar-se, mas essa vivência no mundo começa a trazer perguntas que talvez nunca me faria enquanto parado e estão me levando a respostas surpreendentes que me modificam a todo instante.
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As pessoas estão com esperança e querem uma mudança no mundo. Sentem a transição que já acontece, mesmo num ritmo lento. Cada vez que vejo um par de olhos brilhando e acreditando nessa “revolução” sinto que essa viagem faz mais sentido.
A teoria de que podemos perdoar, ajudar o próximo e que semeando ações de bondade vamos colher felicidade é cada vez mais sentida. Existem cada vez mais exemplos e cada vez mais adeptos a essas idéias e o medo do mundo “violento e miserável” passa a ser encarado com coragem e disposição para mudança.
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Depois de sete longos dias em um navio, perdi a noção do tempo mais uma vez e perdi o ritmo. Agora em Manaus tenho grandes deveres. O dinheiro acabou e é hora de trocar trabalho por mais alguns quilômetros.
Está se aproximando a segunda etapa, muito mais intensa e difícil e preciso de muita disciplina para encarar o que está por vir. Essa disciplina tem que estar presente desde já, mas confesso... Estou precisando de fôlego para um recomeço intenso nessa cidade. Fôlego para quando sair pelas ruas dessa cidade conquistar o que almejo, fazer as coisas acontecerem mesmo longe de tudo e todos.

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O prazer de convencer-me novamente que nada é impossível e que perseverança e luta são armas para qualquer batalha que venha a surgir.
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Uma das lutas particulares porem é conseguir livrar-me da pressão que eu mesmo imponho sobre meus dias, meus atos, minhas conquistas. Tenho impressões de que faço ainda somente o que é trivial frente ao que se tem para fazer...
Talvez eu precise de mais tempo para saber o que fazer para ir mais a fundo nessa mudança...
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Em meio a imensidão da Amazônia, com seus cheiros, gostos e costumes, me preparo para o grande segundo passo que deve acontecer em menos de uma lua.